Poesias
por Walter Solon
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É glorioso o oco rombo de gaivota no vidro da parede,
atravessada como se não houvesse nada,
não tivesse asa que guiasse a consciência
ao voar estúpida, de olhos fechados, pensando no amor.
(Não tivesse adesivo que pela forma e semelhança
passaresca assustasse e divergisse para
longe da parede.)
Agora, aqui na sala estatelada,
mancha o carpete da minha vó,
mas não terei que limpar nada,
existe pra isso empregada.
Parece poesia, mas é triste e grotesco, e
poesia deveria dar na gente uma vontade
de sambar.
chá da pérsia
curdo me entrega o pote
turco mente que vem da armênia
mas que tem parentes turcos
quer destruir meu disfarce
brinco de princesa barba ruiva
ataque aos soviéticos
impune
líbio me beija os dedos
retribuo com versos amigos
quero morar em cabanas
na varanda na cobertura
de um forte
com piscina e palmeiras de abano
o sol me enaltece o umbigo
abolição do abrigo
cresce o número de refugiados
no meu aquário de espelhos e betas
quase apaguei o incêndio
mas fiquei pois me aquecia
inverno nunca vi coisa igual
colho neve no vaso de flores
será que resistem ao frio?
begônia tulipa rosemary buds
festival de cinema africano
eles falam minha língua
faísca na sala de projeção
querosene antes de tudo
molotov, estalinismos sórdidos
quem acusar a falcatrua
no sexo de sete erros
a recompensa será o meu
cérebro ressecado branco
em leito de frutas secas
minhas sementes, ao composto
falta o húmus da terra
que falta ao falafel dos turcos
elixir de insetos mortos
sou um aracnídeo fúnebre
de patas menores que o corpo
e alfinete atravessando o
cefalotórax
com vestido de rendinha
tamanco de holanda
e ares de quem diz adeus
saltando de uma ponte de pedra
não se trata de um suicídio
é dança de acasalamento
e reconciliação
entre homens
no lago que não é o reno
na profusão de passos
perto das arestas de
dar sustento a mundos
que faço com as mãos
em concha de escutar
os mares de ondas curtas
e ainda me são distantes
o tato no ar só revela
bicos brancos sobre cabeças
pretas sobre corpos de patos
territorialistas no lago daqui
que me expulsam da margem
e cagam no lugar onde estive,
onde estava
meu fazer são bronzes
entre corpos de conter
areias do reno e
outros motivos para
chegar mais perto
mas o que querem:
souvenirs de azeite
ou água do mar morto
ou areia da judeia
ou o que for da terra
santa
ou como disse o
menino na piscina
da hebraica: da minha
terra santa
na fumaça do churrasco
não reconheço a minha
fome. eu não trouxe
carne, não tive
tempo, ofereci a
minha, já não
quiseram
e se pescasse os peixes
e se esganasse os patos
e se afogasse os gansos
ou o cisne que me expulsou
da praia
outro lago na jureia, este
está mais cedo, está
mais quente, entendo
as carnes da menina
da foto que estende
o varal entre troncos
e a balança de ver o peixe
e a peneira de aprender
os grãos e a rede do
descanso
no banco em frente ao lago
durmo, encasacado, que não
é o reno, o vento me acorda
sempre que mais forte, pois
mais forte, o sono é leve, me
lembro do índio a que atearam
fogo
o que vestia? há quantos anos?
no canteiro do playground
yoshi apelido de jorgen
joga areia no amigo e
grita: é tudo simultâneo
e eu aceito a narrativa
embora não aceite a
inocência nas crianças
perto das arestas de
dar sustento a mundos
que faço com as mãos
em concha de escutar
os mares de ondas curtas
e ainda me são distantes
o tato no ar só revela
bicos brancos sobre cabeças
pretas sobre corpos de patos
territorialistas no lago daqui
que me expulsam da margem
e cagam no lugar onde estive,
onde estava
meu fazer são bronzes
entre corpos de conter
areias do reno e
outros motivos para
chegar mais perto
mas o que querem:
souvenirs de azeite
ou água do mar morto
ou areia da judeia
ou o que for da terra
santa
ou como disse o
menino na piscina
da hebraica: da minha
terra santa
na fumaça do churrasco
não reconheço a minha
fome. eu não trouxe
carne, não tive
tempo, ofereci a
minha, já não
quiseram
e se pescasse os peixes
e se esganasse os patos
e se afogasse os gansos
ou o cisne que me expulsou
da praia
outro lago na jureia, este
está mais cedo, está
mais quente, entendo
as carnes da menina
da foto que estende
o varal entre troncos
e a balança de ver o peixe
e a peneira de aprender
os grãos e a rede do
descanso
no banco em frente ao lago
durmo, encasacado, que não
é o reno, o vento me acorda
sempre que mais forte, pois
mais forte, o sono é leve, me
lembro do índio a que atearam
fogo
o que vestia? há quantos anos?
no canteiro do playground
yoshi apelido de jorgen
joga areia no amigo e
grita: é tudo simultâneo
e eu aceito a narrativa
embora não aceite a
inocência nas crianças
planetário do ibirapuera
planária, em que luz põe asas
de um beijo dado quando escuro o planetário
colhida no lago do ibirapuera
que o dicionário não conhece
inchados, mas têm asas que abertas
assim conheces noruega, antuérpia
e tudo cabe no quadrilátero
entre a tua e a minha casa
com pernas com pelos
e espelhos que mostrem muito
panacotas de ricota e sonhos
com recheio, não berliners
e agora almas turcas, turvas
num outro passo da tarefa
minha língua é nostalgia
e só ela
em cortinas recortar desenhos
e olhar por entre ursos, sóis, arbustos
o que fazem do outro lado
as pessoas do outro lado
tem-se aqui um pouco de cordura
quando bate um sol até às dez
já não coço muito a minha pele
que descasca e se descasca, dói
übermacho
na plataforma de johannesburgo
de embarque
onde os rios fedem a chocolate
e se censura victor hugo
um outro canal e obturação
uma lição de cinema
o que filmar numa fêmea
a mão
quase quasímodos
ao subirmos as escadas
(percebemos que)
da torre não se vê mais nada
nem mesmo abismos
pois bem: o que
resta é fechar os olhos
comer 1 kg de macarrão com alho e óleo
e besuntar bastante o seu muque
quem sabe assim
de embarque
onde os rios fedem a chocolate
e se censura victor hugo
um outro canal e obturação
uma lição de cinema
o que filmar numa fêmea
a mão
quase quasímodos
ao subirmos as escadas
(percebemos que)
da torre não se vê mais nada
nem mesmo abismos
pois bem: o que
resta é fechar os olhos
comer 1 kg de macarrão com alho e óleo
e besuntar bastante o seu muque
quem sabe assim
vico
por onde entra o aviso
viso a comprar a
cela em que
passou as últimas horas
vico
e o virgo de johanna
por onde entram porcas e fivelas
sim, porcas de apertar
de fechar coisas pequenas
não, fivelas, não favelas
quando as horas te chegam nos dedos
rouba a casa da joana inteira
e faz dela mãe
chama ela de mãe
quando a festa tem quatro andares de piscina
não se deixe enganar
as cortinas são transparentes
e te espiam pelo plástico
te querem mal
o silêncio em que batizo
um país onde
javalis atravessem
as estradas
e só haja sentido
a cada quatro estrofes
e chuva a cada princípio
de seca
pelos estranhos no lençol e nas cobertas
instituto arqueológico andino
instituto arqueológico andino em parceria com o pólo astronômico
escandinavo
louvação
do anti-nórdico desbravado pelo nórdico
os
meus pólos não são dois
isto
é asbjørn com seu casaco de cacique comprado em nova iorque
e
eu com o meu de lhama herdado do avô
o
dele é bege feito um deserto de poucos oásis
o
meu é azul feito a américa do sul
alguém
no contratempo pedalando a bicicleta
me
alcança, entre duas avenidas, no farol
equinócio
20-03-12
eu
beijo este alguém que descansa a bicicleta
que
eu não posso pedalar
ciclovia
interditada para mim
que
não aprendi a desenhar um círculo com os pés
que
penso que só perfeitos são os círculos perfeitos
os
que exige a bicicleta
mas
ela estacionou a bicicleta e veio falar comigo
sinto-me
envolvido
sintoma
de perigo
ich
schreibe weiter
pensei
que fosse ontem o equinócio
em
homenagem à peruana enviar-lhe-ia postais de copenhague, upsala, oslo,
reiquejavique
com
auroras boreais
anderes
breiviques
que
já vi que já vi que
deve
ser a ansiedade
explico
a ansiedade dos poetas de harold bloom à garota não mais na bicicleta, à garota
aqui ao lado
ela
entende, faz que sim
pasternak em greve
pasternak em greve
de fome enquanto
falamos sem ter o
menor compromisso
com a verdade no
nosso horizonte.
as horas pela rua
já estão previstas
na planilha.
cansados.
sem um pingo
de coragem para
sair na chuva.
pastamos a grama
da fome entretidos
famintos sabemos
muito contar a
nossa verdadeira
história.
ficantes de olhos
pra cima grudados
no teto com teias
de aranha e gozo
e esperma.
fitando algum com-
promisso inadiável
mesmo sem acordos
mesmo sem o terror
de acordos que im-
peçam o terror em
guiné-bissau.
pasternak a aranha
em nosso teto.
são tantas.
paulo ceilão
polvo que tenha olhos
no lugar das franjas
desperte o apetite
de amanhã agora antes
pesto aos pedaços
amor frígido, congelado
conservas de mim
pelas partes
no suor
antes: o dourado tivesse
na bexiga um lar de 15m²
em que morássemos nós
e moreias
amanhã: finto o paraíso
frutas já não como
nunca estarão maduras
vendem verdes
eu me vedo
hoje, agora: a joke is a joke
pintassilgos cantam por sinal
fim da linha, não se esperem
poente, porto, pensamentos
sete anos e oito dias
que se passem
pelo apê do tradutor
juramentado
luso-alemão
em que os quadros não repoisem na parede
o vento do trigésimo-terceiro
em que os barcos saiam das garrafas
e voem sobre colônia
que nem no vídeo da wdr
eu nunca lá estive
mas ele é brasileiro
é paulo ceilão
esôfago e agonia
canjica e sofrimento
que eu ranjo e roo
até virarem meus dentes
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