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no lago que não é o reno

na profusão de passos
perto das arestas de
dar sustento a mundos
que faço com as mãos
em concha de escutar
os mares de ondas curtas
e ainda me são distantes

o tato no ar só revela
bicos brancos sobre cabeças
pretas sobre corpos de patos
territorialistas no lago daqui
que me expulsam da margem
e cagam no lugar onde estive,
onde estava

meu fazer são bronzes
entre corpos de conter
areias do reno e
outros motivos para
chegar mais perto

mas o que querem:
souvenirs de azeite
ou água do mar morto
ou areia da judeia
ou o que for da terra
santa

ou como disse o
menino na piscina
da hebraica: da minha
terra santa

na fumaça do churrasco
não reconheço a minha
fome. eu não trouxe
carne, não tive
tempo, ofereci a
minha, já não
quiseram

e se pescasse os peixes
e se esganasse os patos
e se afogasse os gansos
ou o cisne que me expulsou
da praia

outro lago na jureia, este
está mais cedo, está
mais quente, entendo
as carnes da menina
da foto que estende
o varal entre troncos
e a balança de ver o peixe
e a peneira de aprender
os grãos e a rede do
descanso

no banco em frente ao lago
durmo, encasacado, que não
é o reno, o vento me acorda
sempre que mais forte, pois
mais forte, o sono é leve, me
lembro do índio a que atearam
fogo

o que vestia? há quantos anos?
no canteiro do playground
yoshi apelido de jorgen
joga areia no amigo e
grita: é tudo simultâneo
e eu aceito a narrativa
embora não aceite a
inocência nas crianças

planetário do ibirapuera


planária, em que luz põe asas
de um beijo dado quando escuro o planetário
colhida no lago do ibirapuera
que o dicionário não conhece

inchados, mas têm asas que abertas
assim conheces noruega, antuérpia
e tudo cabe no quadrilátero
entre a tua e a minha casa

com pernas com pelos
e espelhos que mostrem muito
panacotas de ricota e sonhos
com recheio, não berliners

e agora almas turcas, turvas
num outro passo da tarefa
minha língua é nostalgia
e só ela

em cortinas recortar desenhos
e olhar por entre ursos, sóis, arbustos
o que fazem do outro lado
as pessoas do outro lado

tem-se aqui um pouco de cordura
quando bate um sol até às dez
já não coço muito a minha pele
que descasca e se descasca, dói

übermacho

na plataforma de johannesburgo
de embarque
onde os rios fedem a chocolate
e se censura victor hugo

um outro canal e obturação
uma lição de cinema
o que filmar numa fêmea
a mão

quase quasímodos
ao subirmos as escadas
                                             (percebemos que)
da torre não se vê mais nada
nem mesmo abismos

pois bem: o que
resta é fechar os olhos
comer 1 kg de macarrão com alho e óleo
e besuntar bastante o seu muque

quem sabe assim




vico

por onde entra o aviso
viso a comprar a
cela em que
passou as últimas horas
vico

e o virgo de johanna
por onde entram porcas e fivelas
sim, porcas de apertar
de fechar coisas pequenas
não, fivelas, não favelas

quando as horas te chegam nos dedos
rouba a casa da joana inteira
e faz dela mãe
chama ela de mãe

quando a festa tem quatro andares de piscina
não se deixe enganar
as cortinas são transparentes
e te espiam pelo plástico
te querem mal

o silêncio em que batizo
um país onde 
javalis atravessem 
as estradas
e só haja sentido 
a cada quatro estrofes
e chuva a cada princípio
de seca

pelos estranhos no lençol e nas cobertas



instituto arqueológico andino

instituto arqueológico andino em parceria com o pólo astronômico escandinavo
louvação do anti-nórdico desbravado pelo nórdico
os meus pólos não são dois
isto é asbjørn com seu casaco de cacique comprado em nova iorque
e eu com o meu de lhama herdado do avô
o dele é bege feito um deserto de poucos oásis
o meu é azul feito a américa do sul

alguém no contratempo pedalando a bicicleta
me alcança, entre duas avenidas, no farol
equinócio 20-03-12
eu beijo este alguém que descansa a bicicleta
que eu não posso pedalar

ciclovia interditada para mim
que não aprendi a desenhar um círculo com os pés
que penso que só perfeitos são os círculos perfeitos
os que exige a bicicleta

mas ela estacionou a bicicleta e veio falar comigo
sinto-me envolvido
sintoma de perigo
ich schreibe weiter

pensei que fosse ontem o equinócio
em homenagem à peruana enviar-lhe-ia postais de copenhague, upsala, oslo, reiquejavique
com auroras boreais
anderes breiviques
que já vi que já vi que
deve ser a ansiedade
explico a ansiedade dos poetas de harold bloom à garota não mais na bicicleta, à garota aqui ao lado
ela entende, faz que sim



pasternak em greve

pasternak em greve
de fome enquanto
falamos sem ter o
menor compromisso
com a verdade no
nosso horizonte.

as horas pela rua
já estão previstas
na planilha.

cansados.

sem um pingo
de coragem para
sair na chuva.

pastamos a grama
da fome entretidos
famintos sabemos
muito contar a
nossa verdadeira
história.

ficantes de olhos
pra cima grudados
no teto com teias
de aranha e gozo
e esperma.

fitando algum com-
promisso inadiável
mesmo sem acordos
mesmo sem o terror
de acordos que im-
peçam o terror em 
guiné-bissau.

pasternak a aranha
em nosso teto.

são tantas.

paulo ceilão

polvo que tenha olhos
no lugar das franjas
desperte o apetite
de amanhã agora antes
pesto aos pedaços
amor frígido, congelado
conservas de mim
pelas partes
no suor

antes: o dourado tivesse
na bexiga um lar de 15m²
em que morássemos nós
e moreias

amanhã: finto o paraíso
frutas já não como
nunca estarão maduras
vendem verdes
eu me vedo

hoje, agora: a joke is a joke
pintassilgos cantam por sinal
fim da linha, não se esperem
poente, porto, pensamentos
sete anos e oito dias
que se passem
pelo apê do tradutor
juramentado
luso-alemão

em que os quadros não repoisem na parede
o vento do trigésimo-terceiro
em que os barcos saiam das garrafas
e voem sobre colônia
que nem no vídeo da wdr
eu nunca lá estive

mas ele é brasileiro

é paulo ceilão
esôfago e agonia
canjica e sofrimento
que eu ranjo e roo
até virarem meus dentes